domingo, 6 de setembro de 2009

Mãos à obra - Emílio Odebrecht

Há algumas semanas, tratei aqui de um assunto que rendeu várias manifestações de leitores.
No texto, sugeri que profissionais maduros já aposentados, curtidos por anos de trabalho em empresas privadas, pusessem a experiência que acumularam a serviço da coletividade.
Dentre as mensagens que recebi, de profissionais e de empresários que já foram sucedidos em suas empresas, algumas pediam sugestões sobre como e o que fazer.
Há vários modos. Colaborar com a administração da cidade ou mesmo do bairro onde se reside é um deles. Penso em urbanistas aposentados, contribuindo para que tantos espaços vazios que vemos por aí, entregues ao abandono pelos municípios, sejam transformados em áreas de convivência e embelezamento local – coisas que, havendo criatividade, sempre se consegue fazer com pouco dinheiro.
Sei de executivos que estão dedicando tempo a treinar diretores e professores em técnicas de gestão – de pessoas, orçamentos, compras etc... – aplicáveis a escolas públicas.
O Movimento Brasil Competitivo, uma organização privada, criada por importantes empresários brasileiros, tem dado contribuição relevante para a qualificação de administradores em ministérios, governos estaduais e prefeituras.
Ao longo de uma vida profissional, em uma ou mais empresas, aprende-se muito sobre o valor do trabalho – e também sobre como fazer o trabalho criar valor, ou seja: de quais maneiras pode-se mudar para melhor o mundo que nos cerca através da ação produtiva coordenada e metódica. Parece banal, mas esta percepção anda escassa em muitos ambientes.
Há também muito para ser feito para além da esfera estatal.
Empresários aposentados podem, com pouco capital e boa disposição, criar pequenas oficinas profissionalizantes para formar jovens para a vida, pelo trabalho.
É o que meu pai, Norberto Odebrecht, já perto dos 90 anos, vem fazendo em 14 municípios do Baixo Sul da Bahia, engajado nos programas da Fundação Odebrecht.
Sua dedicação atual é a educação de moças e rapazes daquela região, de modo que encontrem ali as oportunidades que precisam para desenvolver os talentos que têm.
Eu, desde que deixei minhas funções executivas, tenho me dedicado, entre outras coisas, a participar de um projeto na área de pesquisa científica, destinado à produção de drogas contra o câncer.
Enfim, os exemplos existem e naquele artigo quis provocar quem chegou à terceira idade para um despertar de consciência: enquanto o ócio improdutivo deprime, uma boa causa nos mantém vivos e revigora.

(Texto extraído do Jornal Folha de São Paulo, edição de 06/09/2009)